BACHA BAZI: A ‘TRADIÇÃO’ AFEGÃ DOS JOVENS MENINOS ESCRAVOS SEXUAIS

No ano passado, as atenções do mundo estão voltadas para o Afeganistão. Desde a tomada da capital Cabul, pelo grupo fundamentalista Talibã, centenas de afegãos estão fugindo do país, pois temem o radicalismo político e religioso da organização.

Ao redor do mundo, potências como Estados Unidos e a ONU (Órgão das Nações Unidas) já se manifestaram e condenaram as medidas extremistas. Desde então, os olhos do Ocidente estão voltados para o Afeganistão e muitos fatos e costumes internos deste país estão sendo repercutidos.

Escravidão sexual infantil

Em 2013, a AFP — agência de notícias francesa — entrevistou diversas famílias afegãs. A partir disso, a agência constatou que o país possui uma tradição centenária: a exploração sexual de crianças e adolescentes.

Conhecida como “Bacha bazi” — que significa “brincar com crianças” em dari, um dos dois idiomas oficiais do país — a prática consiste em converter jovens meninos para atividades sexuais.

Considerada uma prática pedófila, crianças e adolescentes são submetidos a escravidão sexual. Segundo a agência de notícias, os garotos convertidos são considerados uma espécie de ‘brinquedo’, em que o adulto pode satisfazer todos os seus desejos e prazeres sexuais.

Abuso

Símbolo de autoridade e influência, a prática é feita, em sua grande maioria, por chefes de guerra, comandantes, policiais e políticos. Isto é, qualquer indivíduo com dinheiro ou certa influência.

Meninos entre 10 e 18 anos são caracterizados com roupas fenotipicamente femininas. Ao serem vendidos, são obrigados a satisfazer os desejos sexuais de poderosos homens. Vale ressaltar, ainda, que a homossexualiadade e qualquer outra demonstração de afeto por pessoas do mesmo sexo é proibida e alvo de punição no país.

Contudo, de forma controversa, um dos lemas afegãos mais conhecidos para ‘justificar’ esta atividade cruel é: “As mulheres existem para educar os meninos, os meninos para dar prazer”.

Proibição do Talibã

Entre 1996 e 2001 — período que o Talibã assumiu o poder do país — “Bacha bazi” foi proibido no território.

Membros armados do Talibã / Crédito: Getty Images

Contudo, a prática ressurgiu com mais força, principalmente em zonas rurais do sul e do leste do Afeganistão. Além disso, ela é comum em regiões tayikas do norte. Integrantes do Talibã até mesmo usavam esses jovens violados para se vingar de autoridades afegãs que os abusaram no passado.

Violação dos direitos humanos

Embora seja uma questão ‘cultural’ do Afeganistão, a prática é considerada por especialistas como uma das maiores violações da Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma vez que submete seres humanos a escravidão.

Um relatório publicado em 2014, a Comissão Independente de Direitos Humanos no Afeganistão (AIHRC) indicou que a prática é comum no país uma vez que há carência de políticas públicas no território.

Além disso, a corrupção, o analfabetismo, a extrema pobreza, a falta de educação e a insegurança gerada pela presença de grupos armados, influenciam na propagação dessa prática desumana.

Sequestrados ou simplesmente vendido por famílias carentes, esses jovens vivem um verdadeiro inferno.

“As vítimas, que são estupradas regularmente, sofrem graves traumas psicológicos”, explicou a denúncia do AIHRC. “Apresentam sinais de estresse e de perda da autoestima, desesperança e pessimismo. O ‘bacha bazi’ desperta temor entre as crianças, mas também sentimentos de vingança e hostilidade”.

Por outro lado, as leis afegãs punem severamente casos de estupros e de demonstração de afeto entre pessoas do mesmo sexo — fato contraditório, uma vez que a prática “Bacha bazi” não possui punições.

Após a revelação do caso, Ashraf Ghani, ex-presidente do país agora tomado pelo Talibã, disse que realizaria uma profunda ‘investigação’.

“Há todo um capítulo que criminaliza a prática (do “bacha bazi”) no novo código penal”, disse Nader Nadery, ex-conselheiro do presidente Ghani, à AFP em fevereiro de 2017. “O código deve ser aprovado este mês. Isto representará um grande passo para o fim desta prática horrível”, completou.

Fonte: Aventuras na História/UOL